domingo, 26 de outubro de 2008

Se conselho fosse bom...

- Então é isso! "Vai e faça o que você tem vontade"?
- É.
- Você está louco!? Alguém em sã consciência nunca...
- OLHA SÓ - ele a interrompe - vamos cortar esse sentimentalismo barato. Somos adultos, conscientes de quem somos e francos um com o outro. Tem sido assim e tem dado certo.
- ..Tava dando certo.
- Então, vai, adquira a experiência alheia que você tanto quer e você ainda ganhe de brinde, inteiramente grátis, o tempo que você quer.
- Larga a mão de ser irônico!
- Desculpe - tentando não franzir a testa e deixar escapar uma gargalhada. Você sabe que quanto fico nervoso, me dá vontade de rir.
- Alguém ia perder uma mulher como eu? Duvido.
- Não vou te perder! Se bem que, quando...
- HA HA HA - desta vez, quem interrompe é ela. Se bem que o que!?
- Se bem que eu não sei se vou estar aqui, esperando por você.
Ela faz cara de desamparo.
- Não faz essa cara...
- Deixa a minha cara pra lá - diz perpetuando o ar de desamparo e o transforma subitamente em tom de cansaço - deixa isso tudo pra lá. Não sei se você enlouqueceu, não sei se eu não aguento mais. Somos um do outro...
- Se engana, minha cara. Eu não sou seu e você não é minha. Estamos juntos por que queremos.

- É, eu sei...
- Então vai! Experimente outra vida, lugares, viagens, outros homens. Só não tenho paciência pra te ensinar tudo que aprendi. Sou um velho cansado. Estou assumindo meus erros. Sou humano. Não sou perfeito. Já passei por tudo isso antes, claro, com exceção aos homens - diz em tom sisudo.
Ela ri.
-Vai estar aqui mesmo? Me esperando?...

...Sabe? No fundo, acho linda essa sua atitude. É muita coragem sua (as lágrimas, ah as lágrimas...).
- Acredite. É para seu, nosso bem.

...
- Então é isso.
- É. Te amo e estou aqui esperando por você.

E ela seguiu a vida à sua frente. Seguiu o conselho. Mudou de cabelo, emprego, país, cores e sabores. Mudou de apelido. Não desistiu. Procurou em todos os outros, não a experiência que lhe faltava, mas sim uma prova para ver se conseguia achar algo tão bom quanto e esfregar na cara dele. E achou!

...E agora? Não sabia o que fazer. Chorava, sentia culpa por estar tão feliz com o esse "novo ele".

Ele? Não foi a lugar algum. Um vazio abissal o tomou logo que terminou a ultima fase de sua mentira funcional, descolada, educada, apática e covarde. Embora realmente não ligasse. Não queria mais. De mãos dadas ao nada que o devorava, uma sensação de alívio indescritível. Embora quisesse vê-la novamente. Talvez.


Nunca mais a viu.

Nunca mais o viu.

E todos viveram felizes para sempre.

4 comentários:

helen disse...

relacionamentos funcionais. Totalmente ano 2000, né?
bju!

J disse...

na verdade, é bem 78... assim como a secadora de roupas e o telefone sem fio... risos. beijo

Thata disse...

E um tempo depois...
Ele: Foi a melhor coisa que me aconteceu.
Ela: Foi um favor que ele me fez.
The end.

Anônimo disse...

Perdeu, playboy!

Mas todos acham sua tampa, no final.

=D