E quando tudo dá errado, fica sem solução, você ergue o braço, com a mão espalmada. Não, eu sei que você não está acenando. Nem insinuando algo, muito menos pedindo um high five pra alguém. Cansado. Cheio de perguntas retóricas e repetidas. Subentendidas. Mas é como se fosse uma maldição. Acordou sorrindo e cansado, porém cantando e dançando, de alguma forma renovado. Como se conseguisse esquecer. Então vai dormir cansado, assim como tinha acordado, porém sem a carga da bateria, sem a alegria, atravessando a longa ponte, ao final do dia, entre o ser e o estar. Ah, você chegou lá, eu sei, mas como é triste o seu chegar. Não queria que fosse assim. Adormece, entre livros e suspiros, com a televisão ligada, em algum canal comprado por alguma religião, escutando, gravando no subconsciente que, pra tudo, tem solução. Mas ela nunca vem. Hoje está finalmente cansado, concluo, olhando no espelho. Assume que cada prato bom e caro que vem, em vez de servir pra saciar a fome, deixa aquele gostinho de que a sobremesa sempre está por vir. Veio pagando pra ver, sem desistir. E é isso. Só isso. O gosto que não existe. Talvez a ultima que morre tenha propósito. Quando não há mais forças, ela não morre. Utilizando teu ultimo suspiro, suga toda a energia pra se manter viva, como um parasita. Mas alguém tem que apagar a luz. Sem motivo, sem razão. Simplesmente pra não deixar nada aceso, depois que todos se foram do cômodo. Para que não haja dúvidas: não há mais ilusão. Há só o real, o concreto.
E sem a terra do nunca, que não é feita de cimento ou tijolos, Peter Pan, que nunca desistia, lutava, sangrava e sofria, mas voltava pra casa vitorioso e cansado. Assim como você. Apartir de agora, ele não tem mais destino, lar ou ao menos uma fonte de calefação. Perdeu. Sem luz, sem sonhos e com frio, foi morrendo ali, congelando, na minha esquina. Passei e vi o que acontecia. Horrorizado, chamando o resgate que não vinha, desesperado com aquele menino no colo, correndo pro hospital, pedindo ajuda, gritando, levantei a mão espalmada. Todos olharam. Que bom! Ninguém ajudou. Esperando, o vi nos meus braços morrer, entre lagrimas e suspiros, gelado e sem lutar. Há pouco tinha perdido. E desistido. Eu desejo, mas não espero, que você chore ao escutar essa história. Ao menos se lembre. E que doa. Você passou por lá, ao meu lado, me viu chorar, correr e gritar com aquele menino no colo. Ainda assim, mesmo eu tendo ajudado a salvá-lo, da vez que você resolveu ajudá-lo. Não errei, nem acertei. Só fiz o que você pediu. E tudo o que fez por mim foi olhar com resignação. Não teve culpa, eu sei, não sabia o que fazer, afinal, eu sempre soube tudo. Dessa vez, porém, não soube. E precisei de você. Vi a criança morrer, mas mesmo querendo ir junto, antes podia, agora sou tudo é concreto. Aprendi da pior forma o que é amadurecer. Ao menos pra mim, já que continua a me olhar com resignação, fazendo pouco e esperando que eu melhore, tendo cumprido o seu papel. E olhando nos teus olhos, sem sarcasmo ou ironia, mesmo perdido e inconsolado, ainda posso dizer: "pode contar comigo, estarei sempre lá por você, pode ficar tranqüilo, ainda que agora sou concreto - sem alma e poesia, todos se foram e ela, que saiu por ultimo, apagou a luz - quero continuar a fazer o bem, sem, no entanto esperar".
domingo, 2 de setembro de 2007
História de pescador
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3 comentários:
Li de um fôlego só. Se o menino for a ilusão, eu já vi menino morrer.
você representou com maestria a fase de 'cólicas arianas'.
O momento em que a gente se dá conta das coisas, e parece que só nós, apenas nós, estamos vendo e conhecendo a podridão de alguns sentimentos.
... bem esquece, não sei se vc vai entender...
rs
beijo
Cadê o bucanero?
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