quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Menos de uma semana

É aqui – pensei. De que lado devo estar? Tudo tão minimalista, bonito, bem projetado, bonito... Só posso estar na sala do Big Boss Pé-de-Bode - explodi sozinho em risadas.

No que parecia ser uma sala de espera escuto "Entre, por favor". Duas portas se abriram... Ele estava lá, me esperando. Fitava-me firme e começou, antes mesmo que eu me sentasse em uma Mies van der Rohe...
- Bom, por tudo o que fizeste nesses 23 anos, pelo sofrimento imposto - e superado, pensei - você foi aprovado pra fazer parte deste seleto grupo, a residir neste condomínio.
- (sorrisão) Estou sem palavr...
- Não me interrompa!
- (sorissinho mezzo sarcástico mezzo cú na mão) Ok. Perdoe-me.
- Não vou me estender por muito. Existe um porém. Sua ficha será submetida a uma segunda análise. Você tem um descuido... Amaste errado. Amaste feio, pobre, infrutiferamente. E isso resulta em rescisão de contrato, na hora.
- Posso imaginar a que se refere...
- Argumentos?
- Também vou ser direto. E me desculpe se for rude ou chulo. Fui, aos poucos dando cada vez menos valor pra toda educação inglesa que recebi desde pequeno... Em suma: não sigo regras que não criei.
- ...
- Sinceramente, sempre tive muita fé. Mas duvidei muito disso tudo. A vida inteira. E não tive medo. Nunca deixei de fazer nada por medo de não ser aceito. Aqui, lá. Tive sim, princípios. Tomei alguns ensinados e criei outros. Tudo pra chamar de meus.
- Esse foi o erro maior. Não obedecer a ordens. Quanto à veracidade, tua fé não te guiou?
- Não estou aqui?
- Como ousas?! – exaltou-se. Deveria ter seguido o que deixei... Que por mais de mil anos a tantos salvou...
- Ando sem paciência, Vossa Excelê... Perdão. Não sei como chamá-lo. Mas não sei para quê regras... Não nisso. Unilaterais! Um jogo?!
- Não percas tempo com isso. Você deveria as ter seguido.
- Pois sou contra. Fui ensinado a pensar. Nasci pensante! Ora. Pensar, controlar meus instintos mais primitivos não é pré-requisito pra ser aprovada minha moradia aqui!? Não vejo cachorros ou insetos, embora ache que eles deveriam estar aqu...
- Ainda, rebelde és!
- Sou sim! Mas não pelo simples prazer infantil de rebelar. Por transpor os limites para amar. E consegui. E multipliquei. E salvei tantas vidas! Salvamos tantas vidas...
- Ah, isso é verdade.
- Não basta!!!? Fazer o bem, sem olhar a quem? Sem apegos materiais ou estéticos? E ainda que não o fizesse. Pelo simples fato de eu ter mantido a inocência até o fim, plus sempre ter o bem, e tê-lo feito sempre que possível, na maioria das vezes. Não Basta? Não me importo com elas. Enfrentei o tudo e todos. Venci tudo e todos. Amei tudo e todos. Tão pequeno esse amor. Um dos amores, um dos meus eus. O menor talvez... Não acredito que "pus" tudo a perder com esse pequeno detalhe. Sou maior do que isso!
- Regras são regras. E mais. Não venceste a ti próprio nesse sentido. Tua fé foi fraca. E tem mais, tinha outros planos pra voc....
- Tou indo embora! Fui metonimizado, não creio. E tem outra: ainda não consegui chegar a esta conclusão: quem se vence, se ganha ou perde. Todos, incluindo você - virei as costas, mais uma vez cansado, mais uma vez triste e mesmo tentando, sem ter perdido a esperança, embora já estava me acostumando com o pior, o calor infernal dos Trópicos de lá - Afinal, venci a mim mesmo. Derrotei a mim mesmo. Perdi ou ganhei? Não descobri e nunca me importei. Fui feliz e fiz muita gente feliz. E não me importo com a quantidade. Sinto o amor e gratidão delas aqui comigo.

Ao pronunciar isto, de costas e saindo da sala, não pude ver o enorme sorriso que brotou no rosto Dele.

- Filho, espere - ele disse, enquanto me virava.
- Assine aqui. És um dos meus sim.
- (cara de espanto) O que aconteceu com as regras?
- Soube quebrá-las. Mas ainda precisa me trazer um comprovante.
Riu.
- Ainda continua rebelde. Não sabes com quem fala...
- O que? Como assim? Sou realista. Posso ter uma idé...
- Vais voltar. Continuar a agir do jeito que sempre foste e mais, descobrirás o que te tira o sono. Não revelo ou profetizo. Te concedo esse bônus. Não importa o resultado. Embora (portando um sorrisinho daqueles de canto esquerdo de boca e só, como acessório) ache que não conseguiras.
- Não sei o que respond...

Acordo, nessa noite de calor marciano. Três e trinta e sete da manhã. De repente, as janelas do meu quarto se abrem e um vento arrefece o quarto. Um relâmpago de quase trinta segundos torna dia. E aquela idéia fixa de que preciso provar algo, sem saber se me venço ou me derroto. A noite volta e caio no sono subitamente. Acordo, novamente. Nove da madrugada, hora de já ter chegado ao trabalho. Ligo o rádio.. "…Closing time/Every new beginning/ comes from some other beginning's end". Troco a estação... "…But how many corners do I have to turn?/How many times do I have to learn/All the love I have is in my mind”.

Desligo o rádio. E o silêncio me sufoca. Ligo o rádio, troco de estação. E deixo tocar: “…a place where there's peace/Its never to late to try/For the cherry blue skies..."

3 comentários:

Helen disse...

Tá de volta mesmo ;)

Mezzo ficcional-mezzo confessional?

beijo!

Daniel "Mack" disse...

De dia de noite: ESCREVEMOS!
Seja quente ou seja frio: ESCREVEMOS!
Seja sobre sol ou sobre xuva: ESCREVEMOS!
Seja alegre ou seja triste: ESCREVEMOS!

O importante com certeza é escrever ..!
hehehe
(viajei..)
bom post ae cara, me fez refletir.....
abraçooo!

Helen disse...

...e já sumiu de novo, pffffffffff

beijo, doido.