quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Apenas um ponto.

Heath Ledger morreu e Amy whinehouse alavanca bolão que premiará quem acertar o dia de sua morte. Não somos íntimos das pessoas públicas ao ponto de sentirmos falta de forma pessoal. Confesso, entretanto, que ao abrir o jornal de hoje, a notícia da morte de Heath me deixou uma sensação estranha, algo como um chute na boca do estômago. Sempre admirei seu trabalho, justamente por me identificar muito com as bases em que o construiu. Prestes a abocanhar mais uma fatia de sucesso, com uma garantida interpretação fora de série, no novo filme da franquia Batman, Heath é encontrado morto, nu em sua cama, ao lado de comprimidos para dormir. Semanas atrás, Heath tinha afirmado que simplesmente não conseguia se desligar de seus pensamentos psicóticos e ansiosos, sempre teve extrema dificuldade para se concentrar, sofria de estresse em níveis suicidas e que mantinha um sono de, no máximo, 2 horas diárias. A situação de Amy não precisa ser explicada, pois, pouco a pouco, ela nos acostuma com a possível perda de suas produções, frutos de um talento original e únicio.

Jovens, talentosos, bem sucedidos, acima da média. Todo aquele clichê sobre o sucesso que tantos desejam.

Meu companheiro de blog, nas horas vagas, e filósofo, na maioria do tempo, Thiago, me mandou um texto de Freud, onde o autor disseca brevemente a busca do homem pela felicidade. Acredito que, dentre os vários tipos de felicidade, aquela propiciada pela paz interior é a mais desejada hoje em dia e mais difícil de ser alcançada, porém nem sempre assim o foi. E drogas estão listadas como artifícios para fugir da realidade como meio de evitar o sofrimento - já que, como Freud mesmo propõe, existem dois tipos de ações pra se chegar à felicidade: uma positiva que é alcançar o prazer, e outra negativa, que é evitar o sofrimento. Embora estudo brilhante, não há nada de novo, que fuja ao conhecimento comum. Quem se droga, o faz com intuito de alterar a realidade, mesmo que de uma forma não duradoura e auto-destrutiva, para sentir prazer (Amy) ou evitar o sofrimento (Heath). O que choca não é o fato de essas duas pessoas públicas estarem vivendo - ou morrendo - dessa forma. É como, esse vale-tudo em busca do prazer (leia esse texto, do próprio Thiago), que tem conseqüências bem definidas e conhecidas, tem sido adotado por todos nós. A substituição de objetivos nos afeta de uma forma assustadora. E a falta de simplicidade, que talvez seja a lacuna mais devastadora, porém permissiva e justificadora, dos males modernos, nos leva literalmente à morte.

Sim, desde pequeno, eu também sempre quis dominar o mundo. Meus amigos e família sabem o quanto sou insatisfeito e insaciável. É algo inato nesse que vos escreve. Porém, acredito que a simplicidade põe nosso pés no chão, ajuda a delimitar e achar, dentro do universo intimo de cada um, quais são os limites a transpor e quais serão os respeitados. Com toda a certeza do mundo – apesar de eu não gostar de certeza alguma – gravar um álbum e terminar um filme, para pessoas brilhantes e, por isso e/ou para isso, insanamente sensíveis, ser simples se torna um pilar aparentemente inalcançável. Convém lembrar, que não só de James Deans e Janis Joplins foi construída a cultura ao redor do globo. Assistimos e escutamos lendas vivas. Mas, principalmente, convivemos todos os dias com essas lendas. A diferença entre uns e outros está justamente na simplicidade de que se utilizaram para lidar com o relacionamentos com o outro e, principalmente, ao enfrentar, física e psicológicamente, o espelho.

10 comentários:

Thata disse...

nada muito profundo, mas...
c viu que a Amy foi pra rehab?
:*

Helen disse...

E às vezes esse espelho não é aquele com que estamos acostumados, a simples superfície polida. Nesses a gente custa a acreditar. E precisamos daqueles outros espelhos, de carne e osso, tão diferentes e tão idênticos a nós. Nesses sim, quando a gente olha e reconhece, acredita profundamente. E se reconcilia. Ou se despede de vez.

Anônimo disse...

João, da primeira vez que ouvi Maria Rita cantando, comentei com uma amiga: "Não sei, é estranho ouvir alguém com um timbre tão parecido com o da Elis, mas que me soa um pouco morna... Parece que falta um pouco de intensidade..." E minha amiga respondeu:"Graças a Deus! Estou cansada de gente que morre cedo". Fico pensando se o preço da intensidade é o sofrimento. Será possível fazer arte que toca profundamente sem necessariamente sentir tanta dor?

J disse...

Thata: eu vi. Tomara que ela não morra!

Helen: Bingo! E é exatamente isso que eu quis dizer com espelho... Garota ixxxxperta! (Risos) É difícil, mas acredito que com a simplicidade podemos, ainda que não nos reconhecendo nesses "espelhos", saber quem somos e seguir em frente, sem a necessidade de quebrá-los ou, pior, que é o que anda ocorrendo, quebrar nosso próprio espelho...

Mônica: Costumo ser reconhecido por ser um cara intenso demais. Extremado, até. E, se te responde, dói. Muito. Prefiro pensar não que o sofrimento seja maior, mas como disse, nossa sensibilidade seja maior às coisas. O que dá na mesma, embora, nessa visão, viver seria menos injusto.

Ada disse...

Vou discordar. Acho que pode ser só um disturbio químico não tratado. As pessoas são infelizes por diversos motivos. Um deles é uma falha química.
Existem teorias demais sobre felicidade e infelicidade. Acidentes também acontecem.

Anônimo disse...

Sabedoria.
Essa busca incessante do ser te remete ao agir, e a absorsão que você carrega de fora trazendo pra dentro (visões de mundo) instiga o desejo de descoberta (agora de dentro pra fora)... construindo a personalidade!

Se as pessoas obtém sucesso e fama sem o princípio básico para o "agir corretamente" (que são os objetivos de vida), dificilmente saberá lidar com a conquista. E digo isso sabendo que sucesso e fama não é aparecer na T.V. e ser reconhecido pelo mundo todo, mas "fazer o que sempre soube fazer, porém agora com algumas pessoas prestando atenção" (do livro: Mania de Explicação)
Simples assim!
A sabedoria está na simplicidade, mesmo! o equilíbrio gerado por ela, nos dá a base da descoberta do "EU" para seguir em frente, no mundo, sem precisar quebrar o espelho! rs

Anônimo disse...

foi anônimo sem querer...
sou eu, viu, J :)

Ada disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ada disse...

Reprovados em química, humorismo e filosofia. Parece que hoje em dia todo mundo tem necessidade de expor suas mazelas.
"Acho pouco civilizado acreditar muito no que se está dizendo."
Não se levar muito à sério é essencial.

Tiago "Kalaes" disse...

Eu prefiro acreditar que pessoas morrem e pessoas nascem simplesmente pq (como fala minha avó) "Deus quis assim"...agora se me pedir uma definição de Deus..eu não saberei te dar...

Acho que usar drogas para alcançar a felicidade é valido... mas para alcançar a imortalidade você vai ter que saber expressar o que as drogas te proporcionam e morrer na hora certa.... é assim com todos os Notáveis Mortos que temos por aí!